IFICT / SANTIAGO ALQUIMISTA
4 de
Junho - 18H30
Banalidades na Sala Hamlet
Objecto
conceptual
“AS
VOLTAS SOBREVOLTAS”
por
SALVADOR
Junta-se a breve alocução, que fez parte integrante do objecto
conceptual
‘As Voltas Sobrevoltas’
e se destinou a ligar a ideia que presidiu à sua construção,
à ideia mestra da iniciativa - conferências sobre banalidades.
Uma vez que o objecto apresentado tinha componentes de
imagem, de representação, alguma cenografia e canto, chamou-se-lhe por isso, ‘Um discurso
sobre a autoria’, um tanto à maneira de sub-título e de acordo com o seu conteúdo geral.
A pose é uma simulação; como tal, uma mentira. Quando
quotidiana e profissionalizada, a pose torna-se verdade. Verdadeiramente falsa.
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Não há autor, há obra cujos efeitos devem valer por
si, sem muletas nem o apadrinhamento de um nome consagrado.
Por ser narcísica, a escrita é uma pose que pode
aparecer exacerbada pelo heterónimo, um multiplicador que ajuda o autor
remirar-se na sua própria imagem.
Mais do que um mero suporte, o livro é um instrumento
de leitura mais que um veículo de texto.
O texto poderia aparecer clarificado ou reforçado se
desligado do livro.
...na mão do autor
O local
O cenário
As imagens cúmplices
O objecto com texto que aparece aqui mostrado e reconduzido
a uma funcionalidade distinta, resultará em si mesmo, onde o
utilizador começar, recomeçar ou abrir e reabrir, sem princípio nem fim,
num contínuo aberto e disformal.
Sendo a escrita uma arte que usa modos padronizados
para atingir dimensões poéticas e lúdicas, a publicação é integrante da obra.
Não publicada a escrita tem uma dimensão próxima daquela que assim refere, permanece um nódulo íntimo, como se fosse uma não-escrita.
O autor, esse ficou para trás; não se preocupe com ele - ficou definitivamente desligado do objecto escrito e sobretudo dos domínios para que esse mesmo objecto lança o leitor.
Só por recurso a artifícios é que o autor pode ser re-ligado à escrita e esses são de ordem mercantilista ou mundana, não de ordem literária ou estética.
Do mesmo modo que a ocorrência aleatória pode indiciar uma
forma complexa de funcionalidade, assim a ancoragem múltipla do
significante, aparentemente disfuncional, surge como estilização aos
olhos de quem rebusca uma estética necessária; ou, apenas como zumbido incómodo
aos do ser superficial.
Adensa-se a condição do leitor.
A sua tarefa passou de mera fruição ocasional a intervenção autoral, na medida em que lhe é exigido o estabelecimento de uma lógica de coesão do objecto lido, na aparente diluição do referencial.
Aqui e ali a escrita resvala para automatismos ou para excrescências gráficas e vocabulares; dissipa-se e subverte-se a sua linha já de si quebrada.
A forma e o significante aparecem sobressaltados; quando
informes no todo, informam na parte, perturbados por ‘factos da expressão’ como
a aliteração e a rima interna... pela soldagem de palavras, pelo uso de
outras linguas.
As ‘coisas’ são aqui todas e nenhuma, vistas à vez, de
um não sabido de vários modos de olhar.
O texto ‘abre-se’, no plano da significação, numa atitude de reconhecimento da intervenção de personalidades notáveis mas sem querer constituir-se evocativo ou apologético; numa referência aos afectos, capazes de gerar enormes poderes, pelo corte ou pelo choque, pela intervenção literária e estética, quase sempre poética.
Balizada por registos distanciados na forma ou
discrepantes pela natureza diversa, do verso /de expressa
exclamação dos afectos/ ao comentário numerado /de abstracta
contextualização/ e à ilustração singela, passando pela provocação
enviezada, numa quase-crónica do quotidiano, encontra-se o pressuposto
da natureza afectiva da convivialidade, numa época de dissolução funcional das
harmonias e das dedicações percursoras.
É escrita que requer leitura activa e investigadora. O
leitor ou integra ou fica de fora, sem nada entender.
Objecto lúdico aqui, hedonístico acolá, atormentado por
vezes, é todavia cúmplice nos efeitos.
E é jogo!
A propiciar o exercício iniciático.
É também uma sugestão do compromisso íntimo, conseguido a
expensas próprias e de que, tal como pelas expectativas criadas, cada um
deveria entender-se responsável.
A inesperada ‘disforma’, a diferença de forma, ao intercalar
‘simplicidades’ na diversidade textual e na complexidade do sentido, exige
atenção acrescida.
e fados das mesmas voltas
pelos
«Boémia do Fado»
Mais abaixo, junta-se também o verso cantado pela Náná
com apreciável arranjo de Miguel
Alvarez, também à viola
e a acompanhar Luis Oliveira, à guitarra, na música dos
clássicos,
Fado das Horas, Fado Margaridas e Fado Vitória.
Pode ouvir as belíssimas interpretações de Naná,
acompanhada por Miguel e Luís:
Pode ouvir as belíssimas interpretações de Naná,
acompanhada por Miguel e Luís:
HORAS
não
está resolvido o saber
não está
resolvido o olhar
foras tu
de meu parecer
não
hesitavas no dizer
do que
poderias tu dar
do que
puderas querer receber
que só é
de juízo trocar
que não
roubar ou vender
impulsos,
desejos, ensejos
tudo o que
é de tomar
tudo o que
é de tomar
tudo o que
é d’oferecer
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MARGARIDAS
vi a’legria e a graça
naquele
gesto de t’encontrar
e também o
gosto e a querença
sem o
trejeito que cansa
e também o
gosto e a querença
sem o
pretexto a’nular
e vi o
sentido avivado
de coisas
contigo trocar
como se
fosse d’hoje e sempre
o ter
a’legria presente
como se
fosse d’hoje e sempre
o ter a
alma a voar
mas de
repente me digo ausente
sem saber
de mim o vazio
nem se
mostrei por um fio
o que me
resta a’nimar (bis)
Veja e ouça a belíssima interpretação:
VITÓRIA
que
ansiedade
esperança!
de começar
esta dança
de que
chegue a tua voz
mas este
gosto de estar
mas este
gosto de estar
…este
gosto de estar só...
que sentir
de ti
lembrança!
de te ter
aqui chegada
e de ver
tu’alegria
neste
gosto do sentido
do
encurtar da distância
que assim
se põe entre nós
e que nos
momentos após
ainda faz
parecer
um
entrave, um não querer
que
ansiedade
esperança!
de começar
esta dança
de que chegue a tua voz
a acabar, o engraçadíssimo "Maridos a retalho"
com letra de Henrique Rego
***
A finalizar, a habitual ceia/convívio à volta da espantosa
mesa d’ iguarias
Fim de festa...
VENHA & PARTICIPE!
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