No Santiago Alquimista
"O FUTURO DA UNIÃO EUROPEIA"
conferência de
JOÃO FERREIRA DO AMARAL
Correspondendo cordialmente ao convite da tertúlia das "Banalidades"
o Professor João Ferreira do Amaral falou sobre o futuro da União Europeia
na forma esclarecida e simples que lhe é peculiar
Adolfo Gutkin dá início â Conferência
O orador foi apresentado por António Correia que salientou o prestigio de João Ferreira do Amaral e o brilhantismo de uma carreira dedicada ao ensino da economia mas com intervenções valiosas também na sociedade. Aliás. deu-se a circunstância de esta Conferência se verificar na véspera da homenagem que a sua faculdade de sempre, o ISEG, lhe prestou a propósito da sua aposentação.
Bem disposto, Ferreira do Amaral inicia a palestra
Desde a criação da CEE,
a Europa mudou, e para pior...
O principio da igualdade, original e genial, está subverido
e a Alemanha assume o papel de potência dominante
após a reunificação
A moeda única, imposta como contrapartida da reunificação,
veio afinal servir os designios da potência dominante
Ao invés da convergência esperada, acentua-se o fosso
entre o grupo de paises com economias mais fortes
e os países de economia mais frágeis
A moeda com cotação elevada, é essencial à expansão das economias competitivas mas um obstáculo poderoso para as outras economias estruturalmente desequilibradas que entraram em perda desde os anos 90
Esses desequilibrios foram mascarados pela disponibilidade de crédito fácil. Défices sucessivos originaram crescimento galopante das dívidas externas tornando inevitáveis crises financeiras e económicas a prazo.
Sem a possibilidade de emitir moeda, os estados correm o risco da bancarrota e ficam reféns dos mercados financeiros.
Entretanto, a estrutura produtiva dos paises menos competitivos desarticula-se e assiste-se ao desmantelamento da indústria,
ao abandono da agricultura e das pescas.
Torna-se evidente a ausência de condições para o prosseguimento do projecto europeu nos actuais termos sendo cada vez mais provável a desagregação da zona euro, seja com a saída "controlada" de alguns paises,
com a saída da Alemanha
ou, ainda, com a criação de dois euros.
A clareza da exposição proporcionou um debate intenso em que se notou a preocupação dos assistentes face a questões concretas.
Ferreira do Amaral teve então oportunidade de esclarecer o seu conceito de "saída ordenada" que entende se devia equacionar no nosso caso.
A definição de um período transitório, a garantia da manutenção do contravalor em euros dos montantes em depósito na data da "saída" e a desvalorização gradual da moeda até ao valor considerado adequado à retoma da economia através do acréscimo de competitividade, são aspectos da saida ordenada. Nesse processo devem também empenhar-se as instituições europeias
em apoio às autoridades nacionais.
A existência de "dois euros" ou a coexistência de duas moedas num mesmo estado são soluções que Ferreira do Amaral não considera adequadas.
Apesar de considerar desejável que Portugal se mantenha na União Europeia, entende como inevitável a saída da zona euro.
A ausência de um debate sério e profundo na sociedade sobre este aspecto fundamental, vai adiando o problema mas conduzirá ao "apodrecimento" da situação até ao momento em que explode descontroladamente (à semelhança do que se passou nos anos setenta com a descolonização).
Uma eventual saída exige uma liderança eficaz
e com sensibilidade social,
eis a questão que o orador deixa a finalizar.
***
Seguiu-se o habitual "buffet d'iguarias" em ambiente um pouco mais preocupado, face à natureza das questõess analisadas na palestra.
Já "à mesa", os participantes rodearam Ferreira do Amaral
tentando esclarecer todos os aspectos de um tema tão importante.
Pode dizer-se que encerrou com chave de ouro o ciclo de conferências de 2012 com a presença de uma figura marcante da economia em Portugal.