terça-feira, 2 de junho de 2015

2015, Jun. 06 - Salvador

IFICT / SANTIAGO ALQUIMISTA

4  de  Junho - 18H30   

Banalidades  na  Sala  Hamlet



Objecto conceptual



“AS  VOLTAS  SOBREVOLTAS” 

por 

SALVADOR



Junta-se a breve alocução, que fez parte integrante do objecto conceptual
‘As Voltas Sobrevoltas’
e se destinou a ligar a ideia que presidiu à sua construção, 
à ideia mestra da iniciativa - conferências sobre banalidades.

Uma vez que o objecto apresentado tinha componentes de imagem,  de representação, alguma cenografia  e canto, chamou-se-lhe por isso, ‘Um discurso sobre a autoria’, um tanto à maneira de sub-título e de acordo com o seu conteúdo geral.



 A pose é uma simulação; como tal, uma mentira. Quando quotidiana e profissionalizada, a pose torna-se verdade. Verdadeiramente falsa.
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 Não há autor, há obra cujos efeitos devem valer por si, sem muletas nem o apadrinhamento de um nome consagrado.
 Por ser narcísica, a escrita é uma pose que pode aparecer exacerbada pelo heterónimo, um multiplicador que ajuda o autor remirar-se na sua própria imagem.
 Mais do que um mero suporte, o livro é um instrumento de leitura mais que um veículo de texto.
O texto poderia aparecer clarificado ou reforçado se desligado do livro.


...na mão do autor


O local


O cenário


As imagens cúmplices








O objecto com texto que aparece aqui mostrado e reconduzido a uma funcionalidade distinta,  resultará em si mesmo, onde o utilizador  começar, recomeçar ou abrir e reabrir, sem princípio nem fim, num contínuo aberto e disformal.
 Sendo a escrita uma arte que usa modos padronizados para atingir dimensões poéticas e lúdicas, a publicação é integrante da obra.




Não publicada a escrita tem uma dimensão próxima daquela que assim refere, permanece um nódulo íntimo, como se fosse uma não-escrita.
 O autor, esse ficou para trás; não se preocupe com ele - ficou definitivamente desligado do objecto escrito e sobretudo dos domínios para que esse mesmo objecto lança o leitor.
Só por recurso a artifícios é que o autor pode ser re-ligado à escrita e esses são de ordem mercantilista ou mundana, não de ordem literária ou estética.



Do mesmo modo que a ocorrência aleatória pode indiciar uma forma complexa de funcionalidade, assim a ancoragem múltipla do significante,  aparentemente disfuncional, surge como estilização aos olhos de quem rebusca uma estética necessária; ou, apenas como zumbido incómodo aos do ser superficial.
 Adensa-se a condição do leitor.




 A sua tarefa passou de mera fruição ocasional a intervenção autoral, na medida em que lhe é exigido o estabelecimento de uma lógica de coesão do objecto lido, na aparente diluição do referencial.
Aqui e ali a escrita resvala para automatismos ou para excrescências gráficas e vocabulares; dissipa-se e subverte-se a sua linha já de si quebrada. 




A forma e o significante aparecem sobressaltados; quando informes no todo, informam na parte, perturbados por ‘factos da expressão’ como a aliteração e a rima interna...  pela soldagem de palavras, pelo uso de outras linguas.
 As ‘coisas’ são aqui todas e nenhuma, vistas à vez, de um não sabido de vários modos de olhar.





O texto ‘abre-se’, no plano da significação, numa atitude de reconhecimento da intervenção de personalidades notáveis mas sem querer constituir-se evocativo ou apologético; numa referência aos afectos, capazes de gerar enormes poderes, pelo corte ou pelo choque, pela intervenção literária e estética, quase sempre poética.



 Balizada por registos distanciados na forma ou discrepantes pela natureza diversa,  do verso  /de expressa exclamação dos afectos/  ao comentário numerado   /de abstracta contextualização/  e à ilustração singela, passando pela provocação enviezada, numa quase-crónica do quotidiano, encontra-se o pressuposto da natureza afectiva da convivialidade, numa época de dissolução funcional das harmonias e das dedicações percursoras.



 É escrita que requer leitura activa e investigadora. O leitor ou integra ou fica de fora, sem nada entender.
Objecto lúdico aqui, hedonístico acolá, atormentado por vezes, é todavia cúmplice nos efeitos.
E é jogo!
A propiciar o exercício iniciático









É também uma sugestão do compromisso íntimo, conseguido a expensas próprias e de que, tal como pelas expectativas criadas, cada um deveria entender-se responsável.
A inesperada ‘disforma’, a diferença de forma, ao intercalar ‘simplicidades’ na diversidade textual e na complexidade do sentido, exige atenção acrescida.











e fados das mesmas voltas

pelos

«Boémia do Fado»

Naná,  Miguel  &  Luís








 Mais abaixo, junta-se também o verso cantado pela Náná
com apreciável arranjo de Miguel Alvarez, também à viola
e a acompanhar Luis Oliveira, à guitarra, na música dos clássicos, 
Fado das Horas, Fado Margaridas e Fado Vitória. 

Pode ouvir as belíssimas interpretações de Naná, 
acompanhada por Miguel e Luís:





HORAS

 não está resolvido o saber
não está resolvido o olhar
foras tu de meu parecer
não hesitavas no dizer

do que poderias tu dar
do que puderas querer receber
que só é de juízo trocar
que não roubar ou vender

impulsos, desejos, ensejos
tudo o que é de tomar
tudo o que é de tomar
tudo o que é d’oferecer
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 MARGARIDAS

 vi a’legria e a graça
naquele gesto de t’encontrar
e também o gosto e a querença
sem o trejeito que cansa
e também o gosto e a querença
sem o pretexto a’nular

e vi o sentido avivado
de coisas contigo trocar
como se fosse d’hoje e sempre
o ter a’legria presente
como se fosse d’hoje e sempre
o ter a alma a voar

mas de repente me digo ausente
sem saber de mim o vazio
nem se mostrei por um fio
o que me resta a’nimar (bis)









Veja e ouça a belíssima interpretação:



   VITÓRIA

que ansiedade
esperança!
de começar esta dança
de que chegue a tua voz

mas este gosto de estar
mas este gosto de estar
…este gosto de estar só...

que sentir de ti
lembrança!
de te ter aqui chegada
e de ver tu’alegria

neste gosto do sentido
do encurtar da distância
que assim se põe entre nós

e que nos momentos após
ainda faz parecer
um entrave, um não querer

que ansiedade
esperança!
de começar esta dança
de que chegue a tua voz


 a acabar, o engraçadíssimo "Maridos a retalho" 
com letra de Henrique Rego









***



 A  finalizar, a habitual  ceia/convívio  à  volta  da  espantosa  mesa d’ iguarias















Fim de festa...



VENHA & PARTICIPE!


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